Mostrar aos alunos do EJA,muitas vezes excluídos de atividades interdisciplinares, que podemos estudar a língua portuguesa de modo criativo, lúdico, reflexivo e sobretudo observando o uso da mesma em diferentes áreas do conhecimento.
Ao escolher o curta "Ilha das Flores" tive como objetivo levar os jovens e adultos a refletirem temas polêmicos como: economia, agricultura, desperdício, fome, família, patrão/empregado, meio ambiente, comportamento e liberdade. É importante destacar que muitos alunos matriculados neste curso convivem com realidades diferentes e até injustas.Assim, para enriquecer minhas aulas e estimular a aprendizagem optei por trabalhar durante duas semanas o curta "Ilha das Flores".
Sem nenhum comentário prévio, apresentei o curta "Ilha das Flores" em DVD para os alunos assistirem. Quando terminou pedi que tecessem comentários sobre o que viram e sobre o tipo de filme. Levantamos alguns assuntos abordados e expliquei o gênero. Propus, então, que víssemos o filme novamente, desta vez anotando os assuntos mencionados. Os alunos foram divididos em dois grupos grandes (por sugestão deles, fizemos um grupo com os homens e outros com as mulheres). Levei um grupo de cada vez para pequisa dos assuntos levantados. Foi maravilhoso vê-los, muitos pela primeira vez, diante do computador! Para orientá-los contei com a ajuda de dois alunos do 3º ano do ensino médio, do período da manhã. Depois de muita troca de idéias e pesquisas, solicitei que os alunos escrevessem um relato sobre o que viram no DVD e sobre o que pesquisaram. Lendo os relatos, feitos individualmente, percebi a alta incidência de preocupação com as famílias pobres e a partir daí, propus um novo trabalho que chamamos de "Retratos de Família".OS alunos contaram para a classe como vivem em família e trouxeram fotos para mostrar. A próxima produção de texto que solicitei foi um artigo de opinião sobre injustiça social ou meio ambiente. Os alunos escolheram o tema e trabalhamos este gênero textual. Confeccionamos muitas flores de papel e trabalhamos a metáfora de "Ilha das flores". Os alunos fizeram pequenos textos convencendo outras pessoas a assistirem ao curta. Recortamos de jornais e revistas fotografias que mostram as diferenças sociais. Levei para a sala o texto do filme, impresso, para trabalharmos o vocabulário com uso de dicionário. Todos os trabalhos foram expostos em painéis na escola, dando a oportunidade dos alunos do EJA (Educação de jovens e Adultos) sentirem-se orgulhosos e emocionados ao terem as habilidades estimuladas. Percebi que avanços na auto-estima ao, felizes, tirarem muitas fotografias ao lado de seus trabalhos.
Chamo o que fiz de desafio, pois é a primeira vez que trabalho com EJA e estou sempre em busca de atividades que atendam os anseios dos alunos, que não sejam fora da realidade deles e, principalmente, que despertem o interesse. Para dizer a verdade, como não estão habituados, a princípio não entenderam minha proposta de trabalho, mas a cada aula iam se envolvendo mais e mais. Com as atividades sobre o curta"Ilha das Flores" conheci melhor meus alunos, por exemplo, pelos relatos descobri que três garotas e um rapaz trabalham na colheita de tomate, cebola, beterraba e cenoura. Esses jovens deram grande contribuição quando conversamos sobre plantações e a relação empregado/patrão.
O processo de aprendizagem da língua portuguesa foi incrível, pois em poucos dias, os alunos tiveram uma melhora considerável na produção de textos, já que queriam fazer ótimos trabalhos.
Em alguns momentos tive que interferir nas discussões e ponderar idéias. Em outros provoquei conflitos para que os alunos tivessem que argumentar e convencer os demais de que estavam certos diante de determinadas polêmicas. Foi muito interessante, e chegou a ser engraçado, o dia em que uma aluna, não tendo com quem deixar seus dois filhos, precisou levá-los para a aula e quando percebemos os garotos estavam participando, um até realizando a atividade proposta! A experiência foi muito valiosa, rica em conteúdo, conhecimento, troca de idéias. O desafio valeu a pena, pois, além do aprendizado, meu relacionamento com os alunos, e entre eles, ficou muito mais humano e mais verdadeiro. Toda sequência de atividades foi registrada em meu diário e fotografei alguns momentos. As atividades ainda estão expostas na escola, sendo sempre observadas pelos alunos do ensino regular, alguns deles filhos de alunos matriculados na EJA. Tive apoio da coordenadora da escola e quando solicitei apoio dos professores de História, Geografia e Ciências fui prontamente atendida.
Estou ansiosa para usar outro curta!